Depois de colocar quase quatro décimos em cima da Mercedes na classificação, a Red Bull vestiu a capa do favoritismo no Bahrein. A equipe austríaca já havia dado o recado na pré-temporada e, quando o negócio ficou sério mesmo, Max Verstappen varreu os rivais nos treinos livres e cravou com facilidade a pole no sábado. O ritmo de corrida demonstrado ainda na sexta-feira era mais uma prova de que os energéticos começavam o ano em vantagem, enquanto a Mercedes ainda tentava entender o complexo carro que projetou para 2021. Só que há condições que não mudam, e aí é que mora o perigo.
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De fato, Verstappen confirmou na corrida o desempenho forte dos testes e andou rápido com os dois compostos escolhidos para o GP barenita – a Pirelli determinou para a etapa em Sakhir os pneus do centro da gama, ou seja, os C4 (macios), C3 (médios) e o C2 (duros). Na prova, Verstappen, Lewis Hamilton e Valtteri Bottas largaram com os médios amarelos e revezaram com os duros brancos. Só que ambas as equipes tinham jogos novos diferentes, e isso foi determinante para a estratégia de cada uma delas.
Verstappen tinha à disposição um jogo novo de médios e um de duros. Já Hamilton tinha na garagem dois conjuntos novos de compostos duros.
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A fornecedora de pneus da F1 projetou uma prova de dois pit-stops, sendo que a tática mais rápida seria a seguinte: para a corrida de 56 voltas, o ideal seria largar com os pneus médios, como os ponteiros fizeram, e esticar o primeiro stint até por volta do 18º giro. O trecho intermediário da corrida seria feito em cima dos pneus duros, algo em torno de 21 voltas. A parte final seria completada com os pneus amarelos. Verstappen iniciou a corrida na ponta, seguido por Hamilton. Ambos ainda com os compostos amarelos escolhidos no Q2 da classificação do dia anterior.
Com a certeza de que realmente possuía um ritmo de corrida mais sólido, a Red Bull se prendeu a uma tática mais conservadora, embora não tenha obedecido ao que a Pirelli sugeriu antes da corrida. Na verdade, o pit-wall decidiu calçar Max com os pneus duros após a primeira parada. O holandês só foi usar o amarelo no fim. Neste ponto, é importante dizer que a equipe não errou na tática com relação à escolha dos pneus, uma vez que não perdeu performance. O equívoco mesmo se deu na leitura daquilo que a corrida apresentava.
O que aconteceu é que Hamilton acompanhou o desempenho de Verstappen, e isso não estava nos planos dos austríacos. Quando a temperatura baixou, a performance do W12 ficou mais clara nas mãos do inglês. E aí veio a primeira investida: mesmo virando tempos próximos ao do líder Max, Lewis foi chamado aos boxes quatro voltas antes do adversário, contrariando o que dizia a Pirelli – Hamilton fez o primeiro pit-stop no 13º giro e saiu com os pneus duros. Aliás, cabe aqui um adendo: a estratégia da Mercedes sequer foi pensada pela fabricante italiana.
Dito isso, ao ir visitar os pits muito antes do previsto, os heptacampeões deixaram claro que a ideia era pegar a concorrência nos boxes. Só que a Red Bull não entendeu como uma ameaça, ainda confiava em seu ritmo e se manteve fiel ao que fora traçado para a corrida. E a certeza de que estava no caminho correto veio por meio da própria performance de Verstappen, que foi capaz de alcançar Hamilton depois da primeira parada (na volta 17). Max tirou uma diferença de mais de 8s na fase intermediária da prova.
Quando já se aproximava, na 27ª passagem da corrida, o dono do carro #33 viu o inglês entrar nos boxes pela segunda vez. De novo em cima de pneus brancos, Lewis deixou os pits e passou a andar muito rápido. Só que Max, de volta ao primeiro lugar, seguia também muito veloz. Quer dizer, ambos tinham desempenhos equivalentes. Foi assim até a volta 39, quando a Red Bull chamou seu piloto.
Hamilton assumiu de novo a ponta e passou a ser perseguido pelo holandês, agora com borracha novinha para gastar. E não desperdiçou nada. Da mesma maneira que fez antes, voou pela pista para cortar a distância para Lewis e, de fato, pareceu realmente uma questão de tempo, o que corrobora com a tese de que a tática austríaca estava certa, só que um novo erros colocou tudo a perder.
Max chegou com muita ação para cima de Hamilton, que tinha pneus 11 voltas mais velhos. O holandês superou uma desvantagem de quase 9s por volta do 51º giro. Quer dizer, Verstappen tinha aí tempo de sobra para tentar uma manobra segura de ultrapassagem, reassumir a ponta e caçar a vitória. O problema é que ele estava com pressa. Afobado, o filho de Jos tentou pegar Lewis na problemática curva 4, só que o heptacampeão não vendeu barato, espremeu o rival, que caiu na armadilha. Verstappen excedeu os limites de pista e teve de devolver a posição. A escolha para de devolução também foi apressada e impediu o contragolpe. Com pneus mais sujos, escapava ali a chance de abrir a temporada com um belo triunfo.
O holandês ainda tentou uma segunda vez, mas não deu. Hamilton cruzou a linha de chegada 0s745 à frente do adversário. A derrota foi doída e ficou totalmente na conta de Verstappen e da Red Bull, que se recusou a marcar Hamilton após o primeiro pit-stop.
O GP do Bahrein também mostrou que ainda é cedo para subestimar os atuais campeões. O W12 e o RB16B são muito diferentes, mas não estão longe em termos de ritmo de corrida, especialmente nas mãos de Lewis e Max. Os dois vão monopolizar a atenção em 2021 e o que se avizinha é um embate duro, mas os austríacos não podem cometer erros básicos. Enquanto isso, a Mercedes e Hamilton deram uma aula de excelência e perspicácia, ainda que genuinamente não esperassem pela vitória, dado o cenário de vantagem dos rivais. De qualquer jeito, ainda é o conjunto mais forte que a F1 já viu.
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