As instituições se desmoralizam ao não reconhecerem erros de seus membros, insistindo que crimes conhecidos não ocorreram. No lugar de identificarem os responsáveis, pedirem desculpas e mostrarem medidas que impedirão a repetição dos erros no futuro, estas instituições terminam assumindo a responsabilidade que deveria ser de indivíduos.
Percebe-se isto na insistência do Exército, ao negar a realidade dos crimes de tortura cometidos por membros de sua tropa durante o regime militar. Não conseguem esconder os fatos e terminam comprometendo a instituição, passando a ideia de que os novos oficiais também são coniventes, mesmo que eles nem fossem nascidos à época daqueles acontecimentos.
Da mesma forma, o PT insiste em negar que em seus governos ocorreram níveis colossais de corrupção, cometidos por filiados e aliados. Ao negar o que é conhecido de todos e acobertar a corrupção cometida por indivíduos, termina conspurcando a imagem da instituição e comprometendo a todos os militantes, inclusive a imensa maioria que não participou destes crimes.
Nem o Exército é torturador nem o PT é corrupto, mas ao negarem denúncias de pau de arara ou de malas de dinheiro, seus dirigentes comprometem suas instituições e todos seus membros. Trazem os crimes de alguns no passado para a responsabilidade de todos no presente. Não há como comparar a perversidade do pau de arara sobre o corpo de uma pessoa, com a imoralidade do roubo de dinheiro público surrupiado do povo, mas o Exército e o PT se identificam ao negar estes fatos, cometidos por membros de suas instituições.
Negar o uso do pau de arara ou o recebimento de propina é o mesmo que negar que a Terra é redonda, com o agravante de deixar aberta a porta para a história repetir a tortura e o roubo. Se os torturadores tivessem sido punidos, inclusive pelo Exército, a democracia estaria mais fortalecida, se o PT tivesse denunciado o erro de seus corruptos, o Brasil confiaria mais neste partido.
Esconder os paus de arara passa a impressão de que estão guardados para serem usados no futuro; negar as malas de dinheiro é sinal de que desejam usá-las outra vez. O Brasil precisa de um Exército livre das chagas da tortura, e de um PT sem a marca da corrupção. É possível, mas para isto seus dirigentes precisam reconhecer o que todos os brasileiros sabem, pedir desculpas e mostrar que os erros foram por indivíduos e não serão repetidos.
Será difícil consolidar a democracia tendo medo do golpe de estado pelo Exército ou de vitória eleitoral do PT, porque eles se apresentam carregando os erros do passado, achando que o povo brasileiro é cego, sem informação, nem discernimento. A defesa nacional precisa de nossas FFAA respeitadas, sem o carimbo da ditadura, nem da mentira de que o passado não aconteceu. A política precisa do PT respeitado, sem a marca da corrupção, nem do aparelhamento do Estado. Para isso, um e outro precisam se comprometer com a verdade, salvar os militares e os militantes atuais dos crimes de outros no passado.
Cristovam Buarque foi senador, ministro e governador
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