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Paus de arara e malas com dinheiro (por Cristovam Buarque) | VEJA

Paus de arara e malas com dinheiro (por Cristovam Buarque)

As instituições se desmoralizam ao não reconhecerem erros de seus membros, insistindo que crimes conhecidos não ocorreram. No lugar de identificarem os responsáveis, pedirem desculpas e mostrarem medidas que impedirão a repetição dos erros no futuro, estas instituições terminam assumindo a responsabilidade que deveria ser de indivíduos.

Percebe-se isto na insistência do Exército, ao negar a realidade dos crimes de tortura cometidos por membros de sua tropa durante o regime militar. Não conseguem esconder os fatos e terminam comprometendo a instituição, passando a ideia de que os novos oficiais também são coniventes, mesmo que eles nem fossem nascidos à época daqueles acontecimentos.

Da mesma forma, o PT insiste em negar que em seus governos ocorreram níveis colossais de corrupção, cometidos por filiados e aliados. Ao negar o que é conhecido de todos e acobertar a corrupção cometida por indivíduos, termina conspurcando a imagem da instituição e comprometendo a todos os militantes, inclusive a imensa maioria que não participou destes crimes.

Nem o Exército é torturador nem o PT é corrupto, mas ao negarem denúncias de pau de arara ou de malas de dinheiro, seus dirigentes comprometem suas instituições e todos seus membros. Trazem os crimes de alguns no passado para a responsabilidade de todos no presente. Não há como comparar a perversidade do pau de arara sobre o corpo de uma pessoa, com a imoralidade do roubo de dinheiro público surrupiado do povo, mas o Exército e o PT se identificam ao negar estes fatos, cometidos por membros de suas instituições.

Negar o uso do pau de arara ou o recebimento de propina é o mesmo que negar que a Terra é redonda, com o agravante de deixar aberta a porta para a história repetir a tortura e o roubo. Se os torturadores tivessem sido punidos, inclusive pelo Exército, a democracia estaria mais fortalecida, se o PT tivesse denunciado o erro de seus corruptos, o Brasil confiaria mais neste partido.

Esconder os paus de arara passa a impressão de que estão guardados para serem usados no futuro; negar as malas de dinheiro é sinal de que desejam usá-las outra vez. O Brasil precisa de um Exército livre das chagas da tortura, e de um PT sem a marca da corrupção. É possível, mas para isto seus dirigentes precisam reconhecer o que todos os brasileiros sabem, pedir desculpas e mostrar que os erros foram por indivíduos e não serão repetidos.

Será difícil consolidar a democracia tendo medo do golpe de estado pelo Exército ou de vitória eleitoral do PT, porque eles se apresentam carregando os erros do passado, achando que o povo brasileiro é cego, sem informação, nem discernimento. A defesa nacional precisa de nossas FFAA respeitadas, sem o carimbo da ditadura, nem da mentira de que o passado não aconteceu. A política precisa do PT respeitado, sem a marca da corrupção, nem do aparelhamento do Estado. Para isso, um e outro precisam se comprometer com a verdade, salvar os militares e os militantes atuais dos crimes de outros no passado.

Cristovam Buarque foi senador, ministro e governador

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