O vídeo em que o presidente Bolsonaro faz um desafio a o ministro Luiz Roberto Barroso é uma espécie de manual das táticas bolsonaristas de desinformação.
Começa com uma manobra diversionária, em que o presidente se queixa de que a CPI não quer — mas deveria querer, claro — apurar “desvio de recursos dos governadores”. Assim tira o foco das omissões de seu governo e faz uma acusação vaga (para se proteger de ser processado) contra seus adversários.
Em seguida, declara que foi uma “jogadinha casada” entre Barroso e a “bancada da esquerda do Senado”. É a denúncia de uma conspiração contra ele mesmo, que o coloca em sua posição favorita, a de vítima, atraindo a simpatia do eleitor. Afora isso, a declaração é falsa: entre os senadores que pediram a CPI há vários que não são de esquerda, como Renan Calheiros, Simone Tebet ou Eduardo Braga — mas ninguém vai se dar ao trabalho de checar.
Bolsonaro então desafia Barroso a determinar a abertura de processos pedidos de impeachment, pendentes no Senado, contra outros ministros do Supremo. Além de nova manobra diversionária, é uma falsa equivalência: no caso da CPI, Barroso determinou que o presidente do Senado cumprisse uma obrigação constitucional; no caso da abertura do processo de impeachment de ministro, ela é prerrogativa do presidente do Senado, e o Supremo nada tem a dizer sobre o assunto.
O próximo passo é a difamação: Bolsonaro diz que conhece “o passado” de Barroso, dando a entender que o ministro teria algo criminoso a esconder. Evidentemente, o presidente não diz o que é, pois, se o fizesse, a calúnia se concretizaria, e Barroso o processaria. Bolsonaro apenas sugere, mas é suficiente para a suspeita, ou a certeza, se instalar na cabeça do eleitor.
Para terminar, Bolsonaro se coloca na posição de bom moço, e, magnânimo, afirma que, num momento de pandemia como este, não é hora de “ativismo judicial” (coisa que não ocorreu desta vez), mas de “boas ações em defesa da vida” dos brasileiros. Bolsonaro, que vive criando conflitos desnecessários e nada faz em defesa da vida de ninguém, acusa os outros de fazer o que ele mesmo não faz, e cobra que façam o que ele próprio jamais fez.
Quase simultaneamente, as redes bolsonaristas, que são praticamente inimputáveis, começam a caluniar Barroso e exigir o impeachment do ministro.
O método é sempre o mesmo.
E sempre funciona.
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