A Fundação Bill & Melinda Gates, criada pelo pai da Microsoft e sua esposa em 2000, é conhecida como a maior organização sem fins lucrativos do mundo, controlando quase 50 bilhões de dólares em bens. O casal já direcionou bolsas polpudas para projetos na área de saúde, como 2,5 bilhões para a Aliança GAVI de vacinas, mais de 1,6 bilhões para o programa educacional Gates Millenium Scholars Program e, mais recentemente, criou o movimento “Giving Pledge”, para incentivar a cultura de doação entre milionários. Agora, a fundação concedeu uma bolsa singela, mas muito significativa, premiando pela primeira vez uma empresa brasileira em uma competição.
A Ribon, uma socialtech (startup com foco social), foi apontada como uma das dez soluções mais criativas e inovadoras do mundo na área de doação diária para caridade, recebendo o prêmio do “Reimagine Charitable Giving Challange” (“Desafio Reimaginando a Doação para Caridade” em tradução livre). No total, 363 projetos se candidataram e a Ribon foi a única solução em língua não-inglesa a figurar no top 10.
“Sentimos que o maior doador do mundo está dizendo que estamos no caminho certo, e isso só dá vontade de fazer nosso projeto crescer”, diz Rafael Rodeiro, cofundador e CEO da startup brasiliense, de apenas 25 anos.
Cada escolhido receberá 10.000 dólares (56.600 reais) e um suporte de refinamento da empresa de design thinking OpenIDEO. Além disso, todos passam a ser participantes do evento Greater Giving Summit, que é exclusivo para convidados selecionados e reúne cerca de 200 filantropos e grandes atores sociais.
A empresa foi fundada em 2016 por três estudantes Universidade de Brasília (UnB), com objetivo de desenvolver a cultura de doação no Brasil. Seu foco são os jovens, especialmente os Millennials e a Geração Z, e para isso desenvolveu um aplicativo em que usuários podem coletar seus “ribons” (moeda virtual usada nas doações) e doá-los gratuitamente para qualquer uma das causas cadastradas na plataforma.
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“A prática de doação não está na rotina dos jovens, apesar de serem mais altruístas. Por meio do digital, queremos engajar aqueles que serão a geração futura de filantropos”, afirma Rafael. Por exemplo, a startup já desenvolveu um jogo com uma empresa de esportes dentro de seu aplicativo para que, a cada nível, o usuário pudesse fazer uma contribuição gratuita.
Os “ribons” são convertidos em dinheiro de verdade (ou seja, são pagos) por empresas, fundações e filantropos que cadastram seus projetos sociais na plataforma. Com o cadastro, portanto, é possível atrair o engajamento de novas pessoas que desconheciam os projetos por meio das contribuições gratuitas (cerca de 50% dos usuários nunca haviam doado antes), assim como aumentar o valor arrecadado por meio das pagas.
A Ribon aumenta doações institucionais para caridade em até 60%. Em 2020, por exemplo, 45.523 novos doadores passaram a doar para a ONG Ação da Cidadania por meio da plataforma em apenas cinco meses, o que representou aumento de 68,3% em relação à doação inicial (feita, neste caso, pelo Movimento Bem Maior).
O aplicativo também já aumentou doações de empresas como Tetra Pak, Cielo, Klabin e Centauro. Ao todo, mais de 180.000 pessoas já foram impactadas pelas doações feitas dentro da plataforma.
O resultado desse processo é uma comunidade de milhares de pessoas desenvolvendo uma cultura de doação, que ainda é fraca no Brasil. No ranking mundial de caridade World Giving Index, o país ocupa a posição de 74º de 126, o que não condiz com seu poder econômico – nem com a demanda de recursos para desenvolvimento social.
“Nosso objetivo é aumentar o conhecimento e interesse por projetos sociais. É a melhor forma de contribuir para cumprir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, que para a Ribon resumem a mudança do mundo para melhor”, conclui Rafael.
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