O interesse dos partidos políticos em nomear apadrinhados para a Esplanada dos Ministérios e para as empresas estatais muitas vezes chama a atenção pela suposta irrelevância dos cargos. Por trás de cada indicação, porém, há algum tipo de interesse — legítimo ou não. Um exemplo é o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), repartição federal responsável, entre outras coisas, pela compra de livros e materiais escolares. Um apadrinhado do ex-deputado Valdemar Costa Neto, presidente do PL, foi nomeado para uma função aparentemente subalterna no órgão.
Paulo Roberto Ramalho assumiu a Diretoria de Tecnologia em maio de 2020. Reportagem de VEJA publicada na última edição mostra que ele protagonizou recentemente um “quase” escândalo, ao liberar, sem ter autorização e nem poder formal para isso, 150 milhões de reais para uma faculdade privada de São Paulo.
No início do mês, a auditora do Tesouro Nacional Renata D’Aguiar denunciou ao presidente do FNDE, Marcelo Lopes da Ponte, que Ramalho, oficialmente responsável por assuntos relacionados a computadores e redes de internet, cruzou a sua área de competência para favorecer o repasse à faculdade paulista Uniesp. O dinheiro foi liberado, disse Renata a VEJA, mesmo diante da constatação de irregularidades e de inconsistências em documentos que impediam o pagamento.
A auditora conta que procurou o presidente do FNDE — indicado ao cargo pelo presidente nacional do PP, senador Ciro Nogueira –, para denunciar o que seria, segundo ela, um novo escândalo no governo. Renata diz que já sabia que Paulo Roberto representava os interesses de Valdemar Costa Neto no Ministério da Educação. “O Paulo dizia aos quatro ventos no FNDE que o Valdemar era o chefe dele. Essa Uniesp tem um monte de rolo”, informa.
O pagamento foi interceptado a tempo. Antes de formalizar a denúncia, porém, a auditora foi demitida, acusada de fazer parte de uma quadrilha que vendeu testes falsos contra a Covid ao governo do Distrito Federal. Ela nega as acusações.
Procurado para se manifestar sobre o caso, o MEC foi evasivo: “O Ministério da Educação reforça que processos relacionados a pagamentos de mantenedoras e Instituições de Ensino Superior são de competência da Diretoria de Gestão de Fundos e Benefício, do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Destacamos que o assunto questionado está sendo tratado no âmbito da Procuradoria Federal, junto à própria instituição.”
O ex-deputado Valdemar Costa Neto pediu que as perguntas fossem enviadas por escrito, mas não houve resposta. O diretor de Tecnologia do FNDE e a Uniesp também não quiseram se manifestar.
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