MC PROJETOS

As Forças Armadas e a legalidade | VEJA

As Forças Armadas e a legalidade

O general Hamilton Mourão afirmou que “as Forças Armadas vão se pautar pela legalidade, sempre”. Bom saber.

Mourão é aquele que ameaçou golpe de Estado duas vezes, aventou autogolpe, sugeriu constituição com constituintes não eleitos, elogiou o torturador Brilhante Ustra em várias ocasiões.

Como se sabe, as Forças Armadas desfecharam golpes militares em 1889, 1930, 1937 e 1964, sem falar dos vários autogolpes durante a ditadura. Também participaram de conspirações e/ou tentativas de golpe em 1954, 1955 e 1961, do golpe “do bem” de 1945, do contragolpe de 1955. Sem falar de insubordinações pontuais, como em 1922 e 1924.

O novo ministro da Defesa, general Braga Netto, afirmou que “o maior patrimônio de uma nação é a garantia da democracia e a liberdade do seu povo”. Beleza. Braga Netto é aquele que disse na ordem do dia do aniversário do golpe de 1964 que a ditadura “pacificou o país” e garantiu “as liberdades democráticas de que hoje desfrutamos”.

Segundo a revista Piauí (em reportagem nunca desmentida), Braga Netto participou de uma reunião com Bolsonaro em que se planejou o fechamento do Supremo Tribunal Federal. Junto com ele estavam os generais Luiz Eduardo Ramos e Augusto Heleno.

Continua após a publicidade

Ramos é o que afirmou que a oposição não pode “esticar a corda” e Heleno foi o que disse que “tem que ver” como se poderia fazer um novo AI-5. Também participaram de manifestações em que se pedia o fechamento do Congresso Nacional.

Outros oficiais, inclusive da ativa, como os generais Eduardo Pazuello e o almirante-ministro Bento, das Minas e Energia, participaram de manifestações antidemocráticas. O então ministro da Defesa Fernando Azevedo, sobrevoou uma dessas manifestações. Azevedo, por sinal, é o autor da ordem do dia lida por Braga Netto, e a ordem do dia do aniversário de 2020 do golpe é ainda mais elogiosa à ditadura do que a deste ano.

É verdade que o comandante do Exército Edson Pujol foi demitido por se recusar a criticar o STF mas seu antecessor, general Eduardo Villas-Boas, fez um tuíte pressionando o Supremo, e é credor da gratidão de Jair Bolsonaro, que considera que sem o apoio do então comandante, não seria presidente hoje. Sobre o novo comandante do Exército, general Paulo Sérgio, não há reparo, o novo comandante da Aeronáutica, brigadeiro Carlos Almeida Baptista, é um bolsonarista dedicado.

Jair Bolsonaro é, na definição do general-presidente Ernesto Geisel, “um mau militar”. Insubordinado, pegou cadeia por dar declarações políticas, e foi condenado e quase expulso da Corporação por ter planejado explodir bombas em quartéis. É extremista, fã da ditadura e da tortura, ligado a milícias no Rio de Janeiro, e inimigo da democracia desde sempre. Nada disso incomodou os militares, que apoiaram em bloco sua candidatura e aderiram a seu governo de maneira entusiasmada — incluindo os raríssimos militares, como os generais Santos Cruz e Rêgo Barros, que têm coragem (depois de serem demitidos por Bolsonaro, naturalmente) de vir a público criticá-lo.

Quando os militares reconhecerem que a ditadura foi ditadura, que não se alcança a democracia matando a democracia, que perseguir, torturar e exilar os adversários não é aceitável, a gente começa a pensar se acredita que as Forças Armadas vão se “pautar pela legalidade, sempre”.

Até lá, olho vivo.

Políticaimagem01-04-2021-23-04-16PolíticaSem apoio para o golpePolíticaPolíticaBolsonaro despertou no brasileiro o que ele tem de piorPolíticaPolíticaBolsonaro quer um Exército para chamar de seu e dar o golpeSaúdeSaúdeCovid-19: Nova variante é identificada em Sorocaba, no interior de SP

PolíticaPolíticaSenado aprova projeto em benefício de vítimas de violência domésticaPolíticaPolíticaSeis presidenciáveis assinam manifesto em defesa da democraciaPolíticaPolíticaSenado aprova multa para discriminação salarial contra mulheresPolíticaPolíticaBolsonaro afirma que joga dentro dos limites da ConstituiçãoContinua após a publicidade

Sair da versão mobile