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Bolsonaro sai menor e mais isolado (por Helena Chagas) | VEJA

Bolsonaro sai menor e mais isolado (por Helena Chagas)

Há mais ou menos um mês, Jair Bolsonaro, apesar do fracasso do governo diante da pandemia e da queda de popularidade, ainda tinha suporte político baseado num tripé: 1. o pessoal do Centrão, que acabara de eleger os dirigentes do Congresso; 2. a maioria do establishment econômico, que ainda acreditava na agenda liberal de Paulo Guedes; 3. os militares. A perna 1, consolidada na reforma ministerial com indicações políticas e a entrega de cabeças, subsiste, embora suas bases mercenárias não permitam apostas no futuro. Num curto período, porém, as pernas 2 e 3 parecem ter ruído. Uma, com a carta dos empresários e banqueiros com duras cobranças ao governo. Outra, na primeira crise militar em 45 anos, uma invenção sobre a qual o presidente da República pode pedir direitos autorais exclusivos.

O presidente da República sai menor desse episódio. Ao demitir o ministro da Defesa e, em sequência, os três comandantes militares, Bolsonaro expôs ao país com riqueza de detalhes seu lado mais boçal, de quem não aprendeu o que é institucionalidade e não sabe operar nos espaços da democracia. Ficou logo claro, para todo o país, que ele se livrou de Fernando Azevedo e do comandante do Exército, Edson Pujol, porque se recusaram a agir politicamente em favor de seu governo, seja contrapondo-se a medidas de restrição decretadas por governadores na pandemia, seja por se recusarem a fazer absurdas admoestações púbicas ao STF pela decisão de anular as condenações do ex-presidente Lula.

Essa último ponto, considerado uma espécie de gota d’água no processo de deterioração da relações entre Bolsonaro e as Forças Armadas, é também, por si só, um capítulo à parte no inferno astral político do presidente: o ressurgimento do petista no cenário, com boas chances de se tornar seu principal adversário em 2022, deixou-o mais acuado ainda. Como tudo gira em torno de 2022 no Planalto, ele não hesitou em fazer nova jogada de risco, desta vez tentando encurralar os militares que comandam as forças da ativa. Deu-se mal, ao que tudo indica.

Houve reações nos outros poderes e na sociedade. Ficou claro que não só os generais demitidos, mas também os que ficam, junto almirantes e brigadeiros que ocupam os mais alto comandos, não estão numa vibe para golpe. Podem não gostar de Lula, o que é um direito, e podem torcer e apoiar outro candidato. Mas estão empenhados em manter as Forças Armadas dentro de seu papel constitucional – talvez calejados pelos rumos tomados pelo que aconteceu por aqui há 57 anos.

Acima de tudo, os movimentos castrenses da semana mostraram que Fernando Azevedo, Edson Pujol, Ilques Barbosa e Antônio Carlos Bermudez não são estranhos no ninho de suas corporações. Por mais que Bolsonaro tente agradar cabos e soldados com discursos e aumentos de salário, quem manda na tropa são os comandantes. Na falta desses, agora demitidos, quem vai mandar serão colegas que pensam de forma muitíssimo parecida, e que até ontem trabalharam sob sua liderança. Ao agredi-la e desrespeitá-la, o presidente da República desagradou o pessoal da ativa e se isolou junto à boa parte da oficialidade. O pessoal do DAS, incluindo os ministros, vai continuar obedecendo às ordens do supremo mandatário. Afinal, são funcionários do governo. Mas ficou claro que os comandantes da ativa não, porque estão à frente de uma instituição de Estado.

Resumo da ópera: se alguém, a esta altura, ainda tinha dúvida se os militares poderiam apoiar algum tipo de golpe de Bolsonaro, o tal do “autogolpe”, a crise serviu para mostrar que não é bem assim. Quando chegar ao Alvorada no domingo, o coelhinho da Páscoa vai encontrar um sujeito bem mais sozinho do que estava.

 

Helena Chagas é jornalista

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