A China é o país mais avançado no desenvolvimento de uma moeda digital do banco central (CBDC). Agora, o governo chinês anunciou o sucesso do mais recente teste com o piloto do iuan digital, realizado na cidade de Suzhou, perto de Xangai. Lá, 181 mil consumidores receberam cerca de US$ 8,50 na criptomoeda estatal em uma campanha de distribuição para gastar em lojas participantes de um festival que ocorreu na primeira semana de maio.
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Iuan digital passa por mais testes e governo chinês avança em seu desenvolvimento (Imagem: Adrian Korte/Flickr)
A conclusão desse mais recente teste faz parte de um programa maior do banco central da China, que vem testando sua CBDC com cerca de 500 mil consumidores em 11 diferentes regiões do país desde abril. Os participantes recebem acesso a um aplicativo que cria uma carteira digital exclusiva do iuan digital. Assim, eles podem realizar compras com descontos em milhares de estabelecimentos que fazem parte do projeto.
A criptomoeda estatal chinesa é uma versão digitalizada do iuan físico, hospedada em uma rede blockchain privada e funcionando de uma maneira muito similar a maioria das moedas digitais. Porém, o intuito do governo chinês é que sua CBDC substitua as cédulas e moedas, e não que se torne um ativo especulativo como o bitcoin (BTC).
Essa última rodada de testes é dez vezes maior que a original que ocorreu no outono de 2020. A China também está testando o iuan digital na fronteira de Hong Kong com a província de Shenzhen Há também uma plataforma em desenvolvimento para tornar a moeda internacionalmente viável em um trabalho conjunto com a Tailândia, Emirados Árabes Unidos e o Banco de Compensações Internacionais (BIS).
China deverá se tornar primeiro país a ter CBDC operando
Com todos esses avanços dos últimos meses, a China caminha para se tornar o primeiro país a colocar em circulação uma criptomoeda do banco central completa e operante. No momento, o iuan digital já está bem consolidado, com uma rede blockchain privada e gerenciada pelo governo chinês. O mais recente avanço foi a criação de carteiras digitais providenciadas pelo banco central. As funções de transferências e pagamentos estão em fase de testes, mas sem problemas aparentes.
Nenhuma data foi anunciada, mas um lançamento nacional deve acontecer nos próximos 12 meses, provavelmente em estágios escalonados. Como comparação, o Federal Reserve (Fed) dos Estados Unidos ainda está discutindo se deve ou não começar o desenvolvimento de uma criptomoeda estatal. A União Europeia recentemente realizou consultas públicas sobre o assunto, mas nenhuma decisão foi tomada ainda.
A CBDC chinesa já está muito bem encaminhada. Os pagamentos que a utilizam são fundamentalmente diferentes daqueles em plataformas mais comuns, como o PayPal. Esses serviços podem processar transações muito rapidamente para os clientes, mas há muitos intermediários no caminho, como cartões de crédito e bancos tradicionais.
O iuan digital contorna a necessidade de terceiros. Não há taxa de serviço, ao contrário dessas alternativas de pagamento e, em teoria, a velocidade dos pagamentos pode ser ainda mais rápida. A emissão dessa CBDC é igual à emissão de dinheiro tradicional em circulação, o que a torna igualmente segura.
Iuan digital ainda enfrenta grandes desafios
No entanto, um iuan digital levanta questões profundas sobre a estabilidade financeira global. Para os críticos da criptomoeda chinesa existem vários perigos. O primeiro é sobre pagamentos internacionais. Atualmente, a maioria das transações que exigem câmbio usa o dólar como intermediário. Isso significa que há uma demanda considerável pela moeda americana, o que traz vantagens para o governo dos Estados Unidos.
Já as transações usando o iuan digital não precisarão do dólar, levantando muitas dúvidas sobre o futuro do sistema financeiro internacional e preocupando o governo americano de que sua moeda perca sua atual soberania monetária. Cerca de 120 países têm a China como seu maior parceiro comercial e muitos deles questionam os acordos em dólares por acrescentar taxas adicionais de câmbio. A China afirma que não está tentando substituir a moeda americana pelo iuan digital e que o “objetivo é permitir que o mercado escolha” como fechar as transações internacionais.
Porém, o maior desafio do iuan digital não é burocrático, mas sim publicitário. A adesão à criptomoeda está deixando muito a desejar. A população chinesa não está demonstrando o interessa esperado pela CBDC. Dessa maneira, o governo da China precisa se mobilizar para divulgar melhor as vantagens de migrar as finanças pessoais do físico para o digital, caso contrário a moeda digital pode perder parte de seu potencial.
Com informações: Bloomberg, TNW